"sozinho... mais uma vez, como em tantas no último mês, estrava sozinho. sentado no sofá, com os olhos fechados e a musica a tocar suavemente na aparelhegem, tentava não pensar em nada. tentava não se lembrar dela, dele, deles. tentou, em vão, esquecer-se daquele dia e daquela carta deixada no seu peito enquanto dormia. tentou apagar da memória aquelas palavras, escritas numa folha branca, com a letra corrida. aquelas letras a preto que contrastavam com o branco imaculado da folha e com... com o vermelho que manchava o papel.
lembrava-se bem daquele pequeno corte que fizera nessa noite, com uma folha de papel, enquanto brincava com palavras.
tentou esquecer-se de como ao acordar, ela não estava lá, e em vez dela uma carta.
tentou remover todas as recordações do seu riso, do seu olhar, do seu geito de falar, da covinha que fazia ao rir e das lágrimas que derramava ao ouvi-lo tocar.
queria não se lembrar, a toda a hora, todo o minuto da sua existência, dela. precisava de continuar, ela tinha-o dito e ele sabia-o.
era tão fácil falar! era tão fácil quando é dito em tom de brincadeira e falado entre juras de amor eterno. foi tão fácil jurá-lo, e agora era tão dificil cumpri-lo.
tinha-o promentido e a sua palavra, a ela, era tudo o que restava. a máquina daqueles momentos eternos, tinha-a levado consigo e fora encontrada dia depois com a sua saia de seda numa qualquer praia.
onde estaria agora? perguntava-se vezes sem conta porque? mas afinal tudo não passava de puro egoísmo: ele, ele, ele, e ela?
a história começara há muito muito tempo, e deveria ter terminado há cerca de um mês, mas não tinha conseguido. precisava de pôr um ponto final na história e encerrar as memórias.
era preciso o impossível. leu a carta uma ultima vez e queimou-a à luz de uma vela.
era ele que tinha a poder da acabar algo à muito inacabado..."
finito