Monday, December 19, 2005

Construção

Chico Buarque
1971

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acbou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Friday, December 16, 2005

decidiu que ia escrever uma história. abriu a janela que dava para a varanda e sentou-se na secretária em frente. olhou para o sol, para lá dos vidros, durante um momento, e baixou depois os olhos, lentamente, para a máquina de escrever. concentrou-se.... o inicio, sabia, era sempre o mais dificil... depois, o fluir da historia era automático, não era planeado, não era ele que inventava a histórias das personagens, eram as personagens que, ao ganharem a sua propria força construiam a sua história. ele nada mais era que um mero espectador que se limitva a escrever aquilo que lhe era ditado, palavra a palavra, frase a frase, suspiro a suspiro...
concentrava-se para que pudesse ouvir os diálogos, os barulhos, as palavras pensadas... concentrava-se para que conseguisse descrever os ambientes, o frio e o calor da conversa, as emoções que pairavam no ar... concentrou-se mais... e a primeira frase saiu:
"a minha única ambição é descobrir quem sou..."
olhou atónito para o papel... não era aquilo que ouvia e pensava, as suas mãos haviam escrito como se fossem autonomas, e não parte dele. decidiu não rasgar já a primeira folha. concentrou-se mais uma vez...
"quem és?"
olhou de novo para a folha... interrogou-se porque estaria ele a tentar falar concigo próprio, não percebia, estava a ficar baralhado. parou de olhar para a máquina e olhou pelo vidro: o areal estendia-se à sua frente e lá no fundo um mar cor de prata brilhava aos primeiros raios da manha. levantou-se e foi à janela. respirou fundo e uma brisa fresca passou-lhe pela cara trazendo a pergunta "ques és?"...
olhou para os lados baralhado: ninguém... nunca está ninguém quando temos duvidas... nunca está ninguém quando precisamos de respostas, nunca está ninguém quando o mundo está ao contrário, pensou.
voltou para dentro e começou a escrever. as palavras agora saiam-lhe como era suposto: num fluir contínuo. não se atreveu a olhar para o papel enquanto não estivesse pronto. tinha medo daquilo que escrevia... só sabia que era a história de um jovem escritor, romantico, e solitário que estava prestes a publicar obra da sua vida...
escreveu, e continuou a escrever. pôs o último ponto já a noite ia avançada. abriu os olhos: estava escuro e lá fora só se via ao fundo o reflexo da lua na água. esperguiçou-se e preparou-se para ver a sua obra. tinha escrito cerca de 100 páginas. estava contente: começou a ler:
"dúvida
por James Maltok"
"quem sou eu? quem es tu? quem somos nós?......."
passou as páginas rapida e desesperadamente... todas diziam o mesmo e na última uma simples frase: "a minha única ambiçaõ é descobrir quem sou, pois sei que não sou nem nunca serei um escritor"



"o problema dos sonhos é que acabamos por acordar para a realidade."

Thursday, December 15, 2005

há dias que não apetece sair, não apetece sorrir, não apetece acordar.
há dias que não apetece comer, não apetece ser, não apetece contar.
há dias que não apetece conviver, não apetece correr, não apetece falar.
há dias que não apetece ouvir, não apetece sorrir, não apatece estar.
há dias que não apetece mexer, não apetece fazer, não apetece cantar.
há dias que não apetece escrever, não apetece conter, não apetece gritar.
há dias que não apetece ver, não apetece ter, não apetece brincar.


é pena mas há dias assim.... este é um deles!

Tuesday, December 13, 2005

azul... amarelo... verde... talvez também um pouco de vermelho! defenitivamente um pouco mais de laranja e castanho.... hum o que falta? azul bebe e branco e preto também! viloeta e roxo, azul escuro e verde esmeralda!
se calhar também um verde mais escuro... mas isso implica também cinzento! assim seja! rosa, mangenta, azul ciano e amarelo torrado!
todas as cores que quiserem! atiradas, pintadas com delicadeza, misturadas ou puras, alegres ou tristes, em alto ou baixo relevo... todas numa total desarmonia harmoniosa!
decedi pintar a minha tela, nela entram todos voces... são as cores que por mais diferentes que sejam, funcionam. todos voces são uma cor, e por muito que possam ou não querer, já deram uma pincelada na minha tela, deixando-a um bocadinho mais colorida... ela está cada vez mais cheia, mas como sabem, uma obra nunca está acabada! não tenciono acabar a minha já... quero mais cores, preciso de mais cores, misturem-se, aprendam e ensinem-m mais cores...
verde, branco, amarelo e vermelho... mais preto e roxo... hum também o laranja e o azul claro... esta-se a compor! participem!
Com isto só quero dizer feliz natal!

Tuesday, December 06, 2005

vamos ver quem se lembra: em que local está escrita esta frase na parede?


"Um dia de chuva é tao belo como um dia de sol. Ambos existem, cada um é como é!"
Fernando Pessoa

Saturday, December 03, 2005

"A ciência fez de nós deuses antes que merecêssemos ser homens"
J. Rosland

Friday, December 02, 2005

"Amor antigo é como uma fila de toldos de praia em Novembro"
Julien Barnes