Wednesday, November 30, 2005








"Quando não souberes para aonde vais, vira-te para ver de onde vens"

Baptista-Bastos

Thursday, November 24, 2005

falta só um mês

Ah pois é minha gente já so falta um mês!!!!! ta kuase!!! =op
chega esta altura e dou cmg tao nostalgica.. é o cheirinho a natal, aquele frio que se materializa (ou quase) em fumo a sair pela boca, as compras à chuva, o nariz congelado a pingar (tipo rena rodolfo), os milhões de casacos e cachecois que vestimos, as luzes na baixa e as canções de natal nas paragens do eléctrico, o espírito de alegria e amizade que se revela nas malukeiras e nos chocolates quentes, as prendas que damos e as prendas que recebemos, a árvores de natal e a coroa na porta, a neve que não cai do céu mas de latas de spraay, os after-eigth's comidos com o chá das cinco, os anjos e o pai natal vermelho, os laços e os papeis de embrulho... TUDO!!!
este ano o espírito d natal veio mesmo muito cedo, e estou a adorar!!!

Friday, November 18, 2005

Thursday, November 10, 2005

“A porta fechou-se após a sua passagem. Ninguém a ouvia passar, nunca. Ela andava silenciosamente, calmamente, como se o tempo parasse à sua passagem, numa vénia muda e surda que ninguém alguma vez poderia ver. Mas ela sentia-os, sim eles estavam todos ali reunidos e dobravam as cabeças à sua passagem. Ela era imponente e controlava todas aquelas almas medíocres que se baixavam e lambiam o pó do chão quando ela passava.
Ninguém, jamais, parecia reparar no seu poder, era algo que passava despercebido aos meros humanos. Eles não a sentiam, não a cheiravam e, sobretudo, não a viam. Quando alguém olhava para ela via apenas uma garota baixa, de cabelos negros e olhos ainda mais escuros e penetrantes. Uma rapariga inofensiva, vestida com roupas escuras e fora de moda, uma pequena mulher tirada de um mau filme de terror dos anos 40. Era isso que a sua limitada visão lhes permitia ver. Não viam a sua imponência quando se levantava, nem as suas mutações na altura. Ela poderia ter dois metros ou cinquenta centímetros. Quando queria era invisível, até para aqueles que estavam preparados para a ver, mas outras vezes mostrava-se poderosa e conseguia o efeito que queria: um conjunto de almas medíocres ajoelhadas temendo olhar para ela.
Esta era a sua pessoa, um alguém que vagueava igualmente bem entre as almas e os humanos, um todo no meio do nada, a cereja no bolo.
À sua passagem todos tremiam e aquela fila de almas que se encontrava ali, numa vã tentativa de a acalmar, estava perto de ver a sua fúria. Ela estava zangada com a falta de sensibilidade e sentido de oportunidade dos humanos, eles pensavam que os problemas se resumiam a dinheiro, amor e traições. Eles não percebiam nada dos projectos superiores e do seu papel neles. Eles não tentavam sequer perceber porque é que tinham sido incluídos no jogo, e isso deixava-a furiosa.
Ela tinha uma função a desempenhar, mas a falta de inteligência dos comuns mortais irritava-a, e impedia-a de continuar. Por vezes só aqueles passeios entres as almas perdidas entre os dois mundos é que a acalmavam, mas não era este o caso.
Entre as almas por que passava existia uma que se mantinha em pé, encontrava-se à sua altura e o seu olhar não a largava. Aquela alma pensava ser tão superior quanto ela? Pensaria aquele ser medíocre estar à sua altura? Apressou o passo para se aproximar daquela alma que não se mexia e a olhava penetrantemente. Parou à sua frente e reparou que aquela alma era da sua altura dum prateado mais brilhante que o normal, o que significava que era nobre, mas estava manchada de negro em certos sítios o que significava a culpa. Aquela alma não era pura e por isso nem sequer merecia estar ajoelhada a seus pés, quanto mais elevada ao seu nível...
Repreendeu-a com palavras ásperas, mas não obteve resposta, elevou a mão e não viu qualquer reacção, soprou-lhe o vento frio do vazio e como resposta sentiu na cara um sopro quente como uma brisa do deserto.
Quem era aquela figura impura, aquela alma nobre e manchada que podia, e se atrevia, a responder-lhe? Retirou a sua navalha de bolso, pois por vezes era preciso mostrar-se quem mandava para se obter o respeito de todos. Empunhou a sua navalha de ouro branco, a única capaz de matar almas, a única navalha invisível aos homens, mas cujo leve toque matava. Com firmeza empunhou-a contra aquela alma que se atrevera a desobedecer-lhe. Fez um breve golpe naquela figura prateada, e sem perceber porquê sentiu um fio de prata a escorrer do seu braço. Perfurou a cara da figura, e sentiu uma dor aguda na sua própria face... não percebia, aquela alma tinha fortes poderes, mas tinha sido ensinada que alma alguma lhe poderia fazer mal desde que usasse o seu pêndulo de gelo, e ela tinha-o, mesmo ali, junto ao coração.
Perfez um último golpe firme e profundo no centro de energia da alma de modo a conseguir elimina-la. Viu a luz de prata fraquejar e a alma começar a ceder nos seus joelhos, pondo-se em posição correcta sob a sua imponente figura. Viu a alma dobrar-se de dor e bater com a cabeça no chão, sinal de humilhação.
Sentiu os seus próprios joelhos fraquejarem e começarem a ceder. Sentiu o seu sangue prateado escorrer pela cara e sentiu um fio de água gelada escorrer-lhe pela blusa.
Ela tinha atingido a sua própria alma, e a sua arrogância tinha-a cegado. O seu desejo de poder traçara a sua destruição.
Agora. Dobrada sobre si mesma ao lado da sua alma, alma essa que nunca lhe tinha pertencido, compreendia muitos dos sentimentos humanos. Sentiu-se um mero mortal num mar de almas que vagueavam entre os mundos. Sentiu-se frágil e impotente.
Olhou à sua volta e viu todas as almas que mantinha sobre o seu poder libertarem-se para uma nova vida. Viu as manchas negras da sua alma serem apagadas e entrarem para as brumas do esquecimento.
O último pensamento que teve foi que também ela seria esquecida. Fechou assim os olhos para os dois mundos: o dos mortais e o das almas, aquele mundo para onde todos vamos assim que deixamos o mundo dos mortais.
O seu último pensamento foi de facto realizado, pois o seu desaparecimento foi celebrado no mundo das almas e a sua morte física pouca diferença fez no mundo mortal...
Ela matou e fez desaparecer aquilo que tinha de mais precioso, e por isso foi esquecida, mas a sua alma relembrada para toda a eternidade, onde agora vagueia à espera do corpo que se encontra algures a apodrecer num bocado de terra.”
“Olhava para o céu, escuro, negro, cor de breu, que não iluminava a fria noite de Inverno que passava e que se aconchegava ao nosso lado, que se deitava nos nossos lençóis e que nos dava um beijo frio de despedida... estava a olhar para o céu numa dessas noites, olhando para as estrelas, pequenos pontos luminosos lá longe, muito longe, que por mais que esticasse a mão continuava sem conseguir atingir... foi numa dessas noites em que a solidão se apodera de nós, mesmo quando estamos acompanhados, que ele morreu sozinho, enquanto eu olhava para o céu...
Ele estava sozinho... Tinha poucos inimigos e ainda menos amigos. Não se lembrava da última vez que tinha passado uma agradável noite na companhia humana. A lareira que mantinha acesa nos 365 dias do ano não o aquecia, pois apesar de provocar uns agradáveis 25º dentro do apartamento, o seu interior continuava vazio e frio, tal caverna de gelo desabitada e abandonada ao esquecimento...
Era naquela melancolia de abandono, esquecimento vazio e frieza profunda, que vivia o seu dia a dia, suportando cada passo como se fosse o seu último e carregando o fardo do seu erro. Errara e sabia-o, carregava aquela sensação de culpa que o acompanhava havia 15 anos, desde o dia em que ela morrera. Desde então nunca mais fora o mesmo. Ela morrera numa noite fria como aquela, numa noite em que por culpa dele alguém entrara na sua casa e lhe matara a sua mulher, a sua vida, o seu tudo. Lera-lhe no funeral aquele poema que ela tanto gostava, e que agora não conseguia ler, ver, sentir...
A culpa era algo medonho, a que não conseguia fugir, a culpa e a solidão. Há 15 anos que ela morrera e que o seu mundo desabara. Ficara sozinho, isolado, cortara relações com os seus amigos e familiares, até mudara de apartamento, tudo isto porque ela era ele e ele ela. Ela morrera... e ele com ela... mas agora, naquela noite tão semelhante à de 15 anos, relembrara-se de tudo e sentia que não tinha opção...
Retirou as brasas da lareira e coloco-as numa braseira, que ela lhe tinha oferecido havia anos, seguidamente fechou as janelas... lembrava-se de ter ligo algures que isso era o método de Inverno...
O ar quente começou a envolve-lo e ficou com sono, olhou uma última vez para o céu negro através do vidro e adormeceu...
Olho agora pelo vidro da minha janela e lembro-me desta história. Ele morreu sozinho, numa noite como esta, em que olho pela janela... morreu sozinho, isolado do mundo, esquecido e abandonado, e dentro de uns anos lançado às brumas do esquecimento... do meu esquecimento. E nessa altura o erro será meu porque me terei esquecido, assim como todo o mundo.”