"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
José Régio
Thursday, October 09, 2008
Monday, September 29, 2008
"apetece-m escrever.
apetece-m escrever como há muito não me apetecia.
não pergunto porquê, não quero saber porquê, pois talvez no fundo o saiba.
escrever pode significar mil coisas e ao mesmo tempo nenhuma.
há quem escreva por felicidade, por tristeza, por solidão ou com companhia... Eu, simplesmente escrevo.
escrevo sem sentido, sem objectivo de ler ou ser lido. escrevo o que me passa a mil à hora na cabeça, escrevo para não olhar para o que me passa a mil à hora na cabeça.
escrevo.
e quero escrever, quero lembrar-me e esquecer-me de que escrevi. quero um dia voltar e ter registado o simples facto de que um dia existi.
há quem escreva para provar a sua existência, para diminuir a sua ausencia e até mesmo para tentar revelar a sua inocência.
escreve-se por tudo. escreve-se tanto e tao pouco. escreve-se tão bem e tão mal. escreve-se por nada.
eu simplesmente escrevo, escreverei e escrevi "
apetece-m escrever como há muito não me apetecia.
não pergunto porquê, não quero saber porquê, pois talvez no fundo o saiba.
escrever pode significar mil coisas e ao mesmo tempo nenhuma.
há quem escreva por felicidade, por tristeza, por solidão ou com companhia... Eu, simplesmente escrevo.
escrevo sem sentido, sem objectivo de ler ou ser lido. escrevo o que me passa a mil à hora na cabeça, escrevo para não olhar para o que me passa a mil à hora na cabeça.
escrevo.
e quero escrever, quero lembrar-me e esquecer-me de que escrevi. quero um dia voltar e ter registado o simples facto de que um dia existi.
há quem escreva para provar a sua existência, para diminuir a sua ausencia e até mesmo para tentar revelar a sua inocência.
escreve-se por tudo. escreve-se tanto e tao pouco. escreve-se tão bem e tão mal. escreve-se por nada.
eu simplesmente escrevo, escreverei e escrevi "
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