Thursday, October 09, 2008

Cântico negro

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio

Monday, September 29, 2008

"apetece-m escrever.
apetece-m escrever como há muito não me apetecia.
não pergunto porquê, não quero saber porquê, pois talvez no fundo o saiba.
escrever pode significar mil coisas e ao mesmo tempo nenhuma.
há quem escreva por felicidade, por tristeza, por solidão ou com companhia... Eu, simplesmente escrevo.
escrevo sem sentido, sem objectivo de ler ou ser lido. escrevo o que me passa a mil à hora na cabeça, escrevo para não olhar para o que me passa a mil à hora na cabeça.
escrevo.
e quero escrever, quero lembrar-me e esquecer-me de que escrevi. quero um dia voltar e ter registado o simples facto de que um dia existi.
há quem escreva para provar a sua existência, para diminuir a sua ausencia e até mesmo para tentar revelar a sua inocência.
escreve-se por tudo. escreve-se tanto e tao pouco. escreve-se tão bem e tão mal. escreve-se por nada.
eu simplesmente escrevo, escreverei e escrevi "

Tuesday, October 09, 2007

palavras...
ecoam na minha mente, palavras.
palavras, que nunca serão pronunciadas.
palavras que serão perdidas.
mas para sempre relembradas.
palavras...

Tuesday, May 15, 2007

" acordou a meio da noite coberto de suor e lágrimas, e com a sensação que algo de terrivelmente mal se passava. sentou-se na cama respirou fundo, mas o ar simplesmente não passava. sentia a garganta inchada, bloqueada, selectiva ao ar que passava, como se fosse um filtro que não deixava passar o oxigénio.
sentia-se angustiado. a respiração tinha acelerado com a ansiedade de respirar e começava a sentir-se tonto.
tentou deitar-se e fechar os olhos, de modo, pensava, a que aquele mau momento passasse e que conseguisse de novo voltar a respirar, a ter sonhos, a viver.
estava farto de pesadelos, de uma vida que não era vida.
ultimamente, cada vez que olhava em seu redor só via bocados de si, desfeitos, no chão, como farrapos de sombra, de passado.
tinha de se livrar daquele sentimento de fragmentação. queria sentir-se uno outra vez.
fechou os olhos e tentou adormecer, cada vez respirando mais profundamente, mais lentamente, mais espaçadamente, até que finalemnete, adormeceu..."

Wednesday, May 02, 2007

Thursday, April 12, 2007

The Scorpion and the Frog


"One day, a scorpion looked around at the mountain where he lived and decided that he wanted a change. So he set out on a journey through the forests and hills. He climbed over rocks and under vines and kept going until he reached a river.
The river was wide and swift, and the scorpion stopped to reconsider the situation. He couldn't see any way across. So he ran upriver and then checked downriver, all the while thinking that he might have to turn back.
Suddenly, he saw a frog sitting in the rushes by the bank of the stream on the other side of the river. He decided to ask the frog for help getting across the stream.
"Hellooo Mr. Frog!" called the scorpion across the water, "Would you be so kind as to give me a ride on your back across the river?"
"Well now, Mr. Scorpion! How do I know that if I try to help you, you wont try to kill me?" asked the frog hesitantly.
"Because," the scorpion replied, "If I try to kill you, then I would die too, for you see I cannot swim!"
Now this seemed to make sense to the frog. But he asked. "What about when I get close to the bank? You could still try to kill me and get back to the shore!"
"This is true," agreed the scorpion, "But then I wouldn't be able to get to the other side of the river!"
"Alright then...how do I know you wont just wait till we get to the other side and THEN kill me?" said the frog.
"Ahh...," crooned the scorpion, "Because you see, once you've taken me to the other side of this river, I will be so grateful for your help, that it would hardly be fair to reward you with death, now would it?!"
So the frog agreed to take the scorpion across the river. He swam over to the bank and settled himself near the mud to pick up his passenger. The scorpion crawled onto the frog's back, his sharp claws prickling into the frog's soft hide, and the frog slid into the river. The muddy water swirled around them, but the frog stayed near the surface so the scorpion would not drown. He kicked strongly through the first half of the stream, his flippers paddling wildly against the current.
Halfway across the river, the frog suddenly felt a sharp sting in his back and, out of the corner of his eye, saw the scorpion remove his stinger from the frog's back. A deadening numbness began to creep into his limbs.
"You fool!" croaked the frog, "Now we shall both die! Why on earth did you do that?"
The scorpion shrugged, and did a little jig on the drownings frog's back.
"I could not help myself. It is my nature."
Then they both sank into the muddy waters of the swiftly flowing river."

Wednesday, April 04, 2007