Friday, December 16, 2005

decidiu que ia escrever uma história. abriu a janela que dava para a varanda e sentou-se na secretária em frente. olhou para o sol, para lá dos vidros, durante um momento, e baixou depois os olhos, lentamente, para a máquina de escrever. concentrou-se.... o inicio, sabia, era sempre o mais dificil... depois, o fluir da historia era automático, não era planeado, não era ele que inventava a histórias das personagens, eram as personagens que, ao ganharem a sua propria força construiam a sua história. ele nada mais era que um mero espectador que se limitva a escrever aquilo que lhe era ditado, palavra a palavra, frase a frase, suspiro a suspiro...
concentrava-se para que pudesse ouvir os diálogos, os barulhos, as palavras pensadas... concentrava-se para que conseguisse descrever os ambientes, o frio e o calor da conversa, as emoções que pairavam no ar... concentrou-se mais... e a primeira frase saiu:
"a minha única ambição é descobrir quem sou..."
olhou atónito para o papel... não era aquilo que ouvia e pensava, as suas mãos haviam escrito como se fossem autonomas, e não parte dele. decidiu não rasgar já a primeira folha. concentrou-se mais uma vez...
"quem és?"
olhou de novo para a folha... interrogou-se porque estaria ele a tentar falar concigo próprio, não percebia, estava a ficar baralhado. parou de olhar para a máquina e olhou pelo vidro: o areal estendia-se à sua frente e lá no fundo um mar cor de prata brilhava aos primeiros raios da manha. levantou-se e foi à janela. respirou fundo e uma brisa fresca passou-lhe pela cara trazendo a pergunta "ques és?"...
olhou para os lados baralhado: ninguém... nunca está ninguém quando temos duvidas... nunca está ninguém quando precisamos de respostas, nunca está ninguém quando o mundo está ao contrário, pensou.
voltou para dentro e começou a escrever. as palavras agora saiam-lhe como era suposto: num fluir contínuo. não se atreveu a olhar para o papel enquanto não estivesse pronto. tinha medo daquilo que escrevia... só sabia que era a história de um jovem escritor, romantico, e solitário que estava prestes a publicar obra da sua vida...
escreveu, e continuou a escrever. pôs o último ponto já a noite ia avançada. abriu os olhos: estava escuro e lá fora só se via ao fundo o reflexo da lua na água. esperguiçou-se e preparou-se para ver a sua obra. tinha escrito cerca de 100 páginas. estava contente: começou a ler:
"dúvida
por James Maltok"
"quem sou eu? quem es tu? quem somos nós?......."
passou as páginas rapida e desesperadamente... todas diziam o mesmo e na última uma simples frase: "a minha única ambiçaõ é descobrir quem sou, pois sei que não sou nem nunca serei um escritor"



"o problema dos sonhos é que acabamos por acordar para a realidade."

No comments: