Monday, October 03, 2005

nada

sinto-m pequena, uma liliputiana, a olhar para um mundo de gigantes, a ter de correr em vez de andar para acompanhar os que me rodeiam.
sinto um mundo à roda na minha cabeça, um mundo sem sentido lógico, sem ranzão, um mundo sem Norte e sem Sul, um mundo grande e pequeno, um mundo que estica e encolhe. Sinto-o como se fosse uma bola nas mãos de uma criança... o meu mundo anda de mão em mão entre a mente e o coração e não pára nunca. recusa-se a ser meu. quer conquistar o mundo e sinto-o a tentar fugir-me. e corro, e salto para o apanhar e torna-se um jogo sem fim e sem início, um jogo sem nexo e sem piada que me entretem e diverte de mórbida maneira.
corro como louca agora não para apanhar o meu mundo, mas para apanhar o autocarro que decidiu não parar, decidiu descer a rua e não me levar. tudo segue sem notar a minha ausência, nada pára e nada nota em mim. hoje sinto-me insignificante: uma migalha numa mesa suja, uma gota de água no oceano, o nada do tudo.
perdi-o mais uma vez, parece um pesadelo sistemático que inciste em sair do mundo mágico em que vive e passar ao real. sento-me no passeio, agora cansada, e olha à minha volta: a correria do dia a dia, a ritmo alucinante que inciste em acelerar ao som de um metrónomo, tic tac tic tac tic tac, o relógio que irrita o fundo do meu ser, o beijo fugidio que é trocado numa esquina, o autocarro, a vida... tudo isso me escapa e foge de mim...
agora levanto-me, ergo a cabeça, sorrio perante a minha insignificância e estupidez e sigo calmamente os passos do autocarro que insiste em ir a um ritmo acelerado à minha frente, a abrir-me o caminho para o nada e para o tudo.
o meu mundo acalma e reconhece que não é nada e que nada é o seu tudo.

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